O desenvolvimento de novas vacinas e imunoterapias tem avançado de forma considerável nos últimos anos. Mais do que acelerar a capacidade de resposta global a novas ameaças, a exemplo da pandemia de Covid-19, esse progresso abriu as portas para novas abordagens tecnológicas. Uma delas é a imunoterapia, que promete transformar o tratamento de doenças crônicas e infecciosas, como câncer e HIV. E uma das áreas mais promissoras no futuro das vacinas é a utilização de plataformas de RNA mensageiro (RNAm). Essa tecnologia oferece uma maneira rápida e eficiente de desenvolver imunizações, o que permite respostas ágeis a surtos e pandemias futuras.
De acordo com a farmacêutica bioquímica Roberta Rocha, o princípio básico é que o mRNA transporta instruções genéticas para as células do corpo. “Isso possibilita a produção de proteínas específicas que ativam o sistema imunológico”, descreve a professora do curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva Wyden, em Belo Horizonte (MG). Mais do que as doenças infecciosas, essas novas abordagens tecnológicas podem ser aplicadas no combate a doenças autoimunes e cânceres.No campo da imunoterapia, a terapia CAR-T (Chimeric Antigen Receptor ou receptor quimérico de antígeno com modificação genética de células T) é a mais promissora. Essa abordagem tem a característica de oferecer tratamentos personalizados para diversos tipos de câncer. “As células CAR-T são ‘programadas’ para identificar e atacar as células cancerígenas”, explica a docente. Essa ação é diferente da quimioterapia que, além das células tumorais, ataca também as saudáveis. Além das neoplasias, pesquisadores têm estudado a aplicação de CAR-T para tratar doenças autoimunes e reduzir o risco de rejeição de órgãos em transplantes.
Terapêuticas e biotecnologia
Outro avanço promissor está relacionado ao desenvolvimento de vacinas terapêuticas, que estimulam o próprio organismo a combater a doença. Diferentemente das vacinas profiláticas, que atuam na prevenção de enfermidades, as terapêuticas têm por objetivo tratar condições já estabelecidas como infecções crônicas ou câncer.
Atualmente, diversas linhas de pesquisa têm atuado no desenvolvimento destes imunizantes. Assim, isso deve possibilitar tratamentos mais personalizados e menos dependentes de medicamentos contínuos. A professora comenta, ainda, que grupos de pesquisa têm estudado vacinas terapêuticas contra HIV, tuberculose, HPV e câncer.
Além de outras aplicações na área de saúde, os avanços na biotecnologia têm permitido a personalização de vacinas e imunoterapias. “A partir da análise de dados genéticos e moleculares, os cientistas podem desenvolver tratamentos específicos para o perfil imunológico de cada indivíduo”, acentua. O objetivo dessa abordagem personalizada é aumentar a eficácia e reduzir efeitos colaterais. Ademais, tem o potencial de transformar o tratamento de diversas doenças.
Desafios
Mesmo com possibilidades promissoras, o desenvolvimento e a implementação de novas vacinas e imunoterapias enfrenta desafios importantes. A professora destaca que um dos maiores obstáculos é o custo, pois o desenvolvimento e a produção de tratamentos imunológicos avançados podem ser extremamente caros. Isso acaba por dificultar o acesso de populações de baixa renda. Outro desafio é a desinformação. “Apesar dos impactos positivos das vacinas, a disseminação de informações incorretas e a resistência de parte da população podem comprometer a implementação de novas tecnologias”, alerta.
Além disso, a docente acredita que o futuro das vacinas e imunoterapias será moldado pela colaboração global. “Parcerias entre poder público, indústrias farmacêuticas e instituições de ensino e pesquisa serão fundamentais para acelerar o desenvolvimento de novas tecnologias”, ressalta. Dessa forma, será possível garantir que essas inovações sejam disponibilizadas de forma equitativa em todo o mundo.