A tromboangeíte obliterante (TAO), também conhecida como doença de Buerger, é uma condição inflamatória grave associada ao tabagismo que afeta principalmente as artérias de pequeno e médio calibre nos membros superiores e inferiores. Os sintomas começam com claudicação intermitente, caracterizada por dores intensas nas pernas, similares às câimbras e fisgadas, ao caminhar e realizar atividades físicas. A condição pode evoluir para isquemia.
De acordo com a médica cirurgiã vascular Márcia Fayad Marcondes de Abreu, diretora da Seccional Campinas da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV-SP), a TAO tem um impacto expressivo na saúde dos jovens. Segunda principal causa de obstrução crônica dos membros inferiores, manifesta-se geralmente em tabagistas entre 20 e 45 anos.
“Embora tenha sido descrita inicialmente como uma doença predominantemente masculina, cerca de 20% dos casos envolvem mulheres, refletindo o aumento do tabagismo feminino”, declara a médica. Nesse contexto, é importante observar que a exposição ao tabaco é uma ameaça tanto para o surgimento quanto para a progressão da doença, configurando-se como o principal fator de risco.
Apesar de numerosos estudos, a causa genética da TAO ainda não foi identificada. Assim, o diagnóstico diferencial deve considerar outras condições como a doença arterial periférica de origem aterosclerótica e diversas vasculites, especialmente quando os membros inferiores estão afetados. Os sintomas da enfermidade podem variar conforme o grau e a localização da oclusão arterial.
Frequentemente, a condição começa com claudicação intermitente e pode evoluir para isquemia crítica. Os sinais incluem dor em repouso, palidez, cianose, hipotermia, úlceras e lesões necróticas. Além disso, a tromboflebite migratória, que ocorre em até 50% dos casos, é um sinal clínico importante. A doença pode se manifestar de forma assimétrica e, em aproximadamente 25% dos casos, acometer simultaneamente membros superiores e inferiores.
Descobrir e tratar
Para o diagnóstico de tromboangeíte obliterante são utilizados critérios clínicos e exames de imagem, como o eco doppler arterial – que é preferido por ser não invasivo. Em casos que requerem intervenção cirúrgica, a angiografia pode ser indicada. Já o tratamento da doença exige a cessação completa do tabagismo, tanto ativo quanto passivo, sendo essa a única medida comprovadamente eficaz para prevenir a progressão da doença e reduzir o risco de amputação.
De acordo com a médica, o abandono do tabaco deve ocorrer o mais cedo possível para melhorar o prognóstico. Também é recomendável que pacientes e familiares participem de terapias de apoio ao abandono do tabagismo. “Atualmente, não existem tratamentos medicamentosos específicos para a enfermidade. Em casos de isquemia crítica podem ser utilizados agentes vasodilatadores para aliviar os sintomas”, orienta.
No entanto, terapias com anticoagulantes e antiagregantes plaquetários não têm se mostrado eficazes na prevenção da progressão da doença. Para controlar a dor intensa pode ser necessário o uso de analgésicos mais potentes e, em alguns casos, medicamentos que ajudem a gerenciar a dor crônica.
A revascularização é raramente indicada devido à natureza segmentar e difusa das lesões. A médica alerta que o prognóstico para pacientes com TAO em relação à perda de membros é mais severo quando comparado a outras doenças vasculares. “Isso reforça a necessidade urgente de conscientização sobre os riscos do tabagismo e a importância de medidas preventivas”, conclui.