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Transtornos psiquiátricos

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Traumas da infância e transtornos em adolescentes

Escrito por: Fernanda Ortiz

Um estudo conduzido por pesquisadores do Brasil e do Reino Unido apontou uma associação entre traumas na infância e o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos na adolescência, sobretudo em países de baixa e média renda. Entre os eventos analisados estão acidentes graves, desastres naturais, violência doméstica, perda de um dos pais e abuso físico e/ou sexual.

Os resultados estimam que cerca de 31% dos jovens expostos a traumas apresentam maior risco de sofrer transtorno de ansiedade, humor e comportamento antissocial. Os achados reforçam a importância de estratégias de prevenção e intervenção precoce para mitigar os efeitos desses eventos ao longo da vida adulta.

O estudo foi realizado pela professora Alicia Matijasevich, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas, da Universidade de Bath e de Bristol, no Reino Unido. A pesquisa analisou dados de mais de 4 mil jovens brasileiros. As informações utilizadas são do Estudo de Coorte de Nascimentos de Pelotas, no Rio Grande do Sul que, desde 2004, acompanha um grande grupo de pessoas e avalia os efeitos dos fatores de risco sobre a saúde.

De acordo com os autores, na coorte os diagnósticos psiquiátricos atuais – ansiedade, humor, atenção-hiperatividade e transtornos de conduta-oposição – foram avaliados aos 15 e aos 18 anos de idade. “O trauma cumulativo ao longo da vida foi avaliado por meio do relato do cuidador até os 11 anos, enquanto acima dessa idade foram combinados o autorrelato do adolescente com as informações do cuidador”, descrevem.

Achados

Os pesquisadores investigaram a exposição a 12 tipos de traumas na infância. Entre eles estão acidente grave, incêndio, ataque ou ameaça, abuso físico, abuso sexual, violência doméstica testemunhada e morte de um dos pais, entre outros. Ao analisar os dados, os autores identificaram que a maioria dos adolescentes sofreu ao menos um trauma, e aproximadamente 1/3 deles preencheram os critérios para, no mínimo, um dos transtornos psiquiátricos.

“Constatamos que, aos 15 anos, 14,7% dos adolescentes tinham pelo menos um transtorno atual. Destes, 30,1% foram expostos a um trauma, 20,8% a dois e 27,2% a três ou mais ao longo da vida”, relatam os autores. Já aos 18 anos, 38,6% dos adolescentes tinham pelo menos um transtorno psiquiátrico. Destes, 36,2% foram expostos a um trauma, 19,8% a dois traumas e 25,3% a três ou mais traumas.

Os autores comentam, ainda, que em todas as análises as associações mais relevantes surgiram para os transtornos psiquiátricos de conduta-oposição e ansiedade. Já as relações transversais e longitudinais para transtornos de humor foram identificadas apenas aos 18 anos. Por outro lado, traumas cumulativos até 11 anos de idade (relatos do cuidador) não foram associados a transtornos psiquiátricos aos 18 anos (relato do adolescente).

“Nossos achados evidenciam, portanto, que a exposição à violência e a outros traumas adversos é fator de risco crucial para o desenvolvimento de transtornos mentais na adolescência”, destacam os autores. Este dado reforça a urgência de investir em políticas públicas voltadas à prevenção e ao apoio psicológico para crianças e adolescentes, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade social. O artigo ‘Associations between childhood trauma and adolescent psychiatric disorders in Brazil: a longitudinal, population-based birth cohort study‘ foi publicado em fevereiro de 2025 na revista The Lancet Global Health.

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