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Doenças hepáticas hereditárias ultrarraras

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PFIC são ultrarraras e de difícil diagnóstico

Escrito por: Elessandra Asevedo

As colestases intra-hepáticas familiares progressivas, conhecidas como PFIC, são um grupo de doenças hepáticas hereditárias ultrarraras que comprometem a formação e o transporte de bile no fígado. Com três tipos identificados até o momento, cada um deles é causado por mutações em diferentes genes.

Dessa forma, as doenças hepáticas hereditárias ultrarraras levam ao mau funcionamento de proteínas responsáveis pelo transporte da bile entre o fígado e o intestino delgado. A disfunção causa o acúmulo de bile no fígado, chamada de colestase. Essa condição pode provocar prurido intenso, amarelamento dos olhos e da pele e, em casos avançados, exigir transplante hepático.

A médica pediatra Melina Melere, integrante do Comitê de Ética do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre,  explica que a PFIC pode afetar pessoas de todas as idades. “No entanto, a manifestação ainda na infância costuma ser mais frequente nos primeiros meses de vida”, sugere a médica, que também é coordenadora de transplante hepático infantil do Hospital da Criança Santo Antônio.

Confusão

Além disso, os sintomas das doenças hepáticas hereditárias ultrarraras costumam ser confundidos com outras enfermidades, o que dificulta o diagnóstico. “Dentre eles estão icterícia (amarelamento da pele), urina escura, fezes claras e coceira persistente”, ensina. Por isso, é essencial que pediatras e outros profissionais da saúde estejam atentos aos sinais da enfermidade e possam identificá-la precocemente.

O prurido causado pela PFIC, por exemplo, é mais do que uma coceira comum e compromete seriamente o sono, a qualidade de vida e o bem-estar emocional da criança. “Junto aos demais sintomas, pode afetar o rendimento escolar e as atividades diárias”, alerta a médica.

Além dos sintomas hepáticos, a condição pode causar fadiga extrema, problemas de crescimento e desenvolvimento infantil. Ademais, podem surgir sinais de falência hepática como sangramentos digestivos devido a varizes esofágicas, e ascite (acúmulo de líquido no abdômen).

Três tipos identificados

Cada subtipo das doenças hepáticas hereditárias ultrarraras é resultante de mutações em diferentes genes, levando à deficiência ou ao mau funcionamento das proteínas codificadas. Essas proteínas têm em comum a função de transportar bile do fígado para o intestino delgado e vice-versa. Quando ocorre uma deficiência ou alteração nessas proteínas, acontece um acúmulo de bile no fígado que pode gerar os sintomas, como prurido. A gravidade do comprometimento hepático pode levar os pacientes a necessitarem de transplante.

Na PFIC1, por exemplo, ocorre mutação do gene ATP8B1. Neste caso, há evolução progressiva da doença levando à falência hepática antes da idade adulta. Ademais, aparecem manifestações extra-hepáticas que incluem diarreia crônica, inflamação do pâncreas, tosse crônica e surdez sensorial. Por outro lado, na PFIC2 acontece uma mutação do gene ABCB11, no cromossomo 2 (2q24). As manifestações começam nos primeiros meses de vida e, geralmente, em poucos anos há progressão da doença. Não há manifestações da doença fora do fígado.

Já na PFIC3 há uma mutação do gene ABCB4, que dá origem à proteína MDR3. Os sintomas podem acontecer nos primeiros anos de vida, mas também na infância ou mesmo em adultos jovens. Pessoas diagnosticadas com PFIC3 também têm maior risco de desenvolver cálculos biliares, colestase induzida por medicamentos e colestase durante a gestação.

Diagnóstico

As colestases intra-hepáticas familiares progressivas, assim como outras doenças raras, têm um caráter crônico e progressivo, que demanda atenção médica constante. O diagnóstico precoce é fundamental para definir o tratamento adequado, que pode ajudar a controlar a progressão da doença e minimizar o impacto dos sintomas.

Atualmente, existem tratamentos que alteram o curso natural da doença e reduzem a necessidade de procedimentos invasivos, como o transplante de fígado. A identificação precoce da PFIC e o tratamento adequado possibilitam maior controle da doença. “Dessa forma, a criança terá um desenvolvimento mais próximo ao normal, com melhor qualidade de vida”, acentua a pediatra Melina Melere.

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