Muito mais do que um gesto de carinho ou paixão, o beijo é um poderoso estímulo neurológico. De acordo com especialistas, esse simples ato ativa uma série de neurotransmissores e hormônios no cérebro, impactando diretamente o bem-estar físico, mental e emocional. Isto porque quando duas pessoas se beijam na boca, o cérebro responde como se estivesse sendo recompensado.
“O beijo aciona o sistema de gratificação do cérebro, liberando dopamina, que está associada à sensação de prazer, motivação e desejo”, explica a neurologista Ana Carolina Gomes, do Centro Especializado em Neurologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. De acordo com a médica, é o mesmo circuito ativado quando o ser humano come algo de que gosta ou ouve uma música favorita.
Entretanto, a dopamina não age sozinha, pois outros neurotransmissores e hormônios também participam dessa experiência. A serotonina, conhecida por seu papel na regulação do humor, pode aumentar durante o beijo, ajudando a combater sentimentos negativos. Já as endorfinas, com efeito analgésico natural, promovem sensações de relaxamento e prazer como se o corpo recebesse uma dose de alívio físico e emocional.
Hormônios ativados
Um dos hormônios mais importantes envolvidos durante o ato de beijar é a ocitocina, apelidada de ‘hormônio do amor’. Produzida durante interações sociais e momentos de intimidade, a ocitocina fortalece os laços afetivos, promove empatia e confiança, além de reduzir a ansiedade.
De acordo com a médica, o beijo pode funcionar como um verdadeiro antídoto contra o estresse porque tem o poder de diminuir a atividade do sistema nervoso simpático, ligado ao estado de alerta, e ativar o parassimpático, que promove relaxamento. “Ao estimular o sistema parassimpático, os níveis de cortisol caem significativamente, o que ajuda a aliviar a tensão e a sensação de alerta constante”, detalha. Em paralelo, o aumento da ocitocina e das endorfinas reforça o sentimento de segurança e bem-estar.
Mas os benefícios não param por aí. “Embora ainda não tenhamos evidências diretas de que o beijo melhore a memória, os efeitos indiretos são promissores”, enfatiza a médica. Isso porque o estresse crônico e o excesso de cortisol (principal hormônio do estresse), afetam negativamente a função cognitiva. Assim, ao reduzir esses níveis o beijo pode ajudar a proteger o cérebro. Além disso, a dopamina liberada durante o ato de beijar desempenha papel essencial na formação de novas conexões neurais, favorecendo o aprendizado e a retenção de memórias.
Outro hormônio que pode entrar em cena durante o beijo é a testosterona, que tende a aumentar e está relacionada ao desejo sexual. Embora seja mais conhecido por seu papel nos homens, esse hormônio também é importante para o desejo sexual em mulheres e para a intensificação da conexão entre os parceiros.
“Existe uma sincronia bioquímica muito rica no ato de beijar, que é um gatilho para processos neurológicos e hormonais que nos aproximam emocionalmente e promovem uma sensação geral de bem-estar”, destaca a neurologista. Em resumo, o beijo é um gesto simples, mas com um impacto profundo no corpo e na mente.