A pele atua como uma barreira física entre o corpo humano e o ambiente externo e possui uma microbiota específica. Essa flora, quando perturbada, pode influenciar o desenvolvimento de tumores de pele. Isso ocorre por meio de danos celulares diretos, modulação dos mecanismos de defesa do hospedeiro e alterações no microambiente imunológico do tumor. Um desses tumores é o melanoma cutâneo. Altamente maligno, se origina de melanócitos na camada basal da epiderme e frequentemente se apresenta como lesões irregulares e pigmentadas escuras na superfície da pele.
A neoplasia altamente agressiva e invasiva é responsável por até 90% das mortes relacionadas ao câncer de pele. Por causa disso, apresenta um profundo impacto na saúde pública e na economia. Diante disso, os cientistas consideram essencial identificar fatores de risco para a enfermidade e explorar novas estratégias de tratamento. Assim, a presença de flora cutânea foi identificada como um fator significativo no início e na progressão do melanoma cutâneo.
No entanto, a vasta diversidade e a abundância desse microbioma apresentam desafios para a compreensão completa da relação causal com o melanoma cutâneo. Com base nisso, um estudo chinês investigou o papel da microbiota da pele no desenvolvimento da doença. “O objetivo era explorar possíveis relações causais entre a flora da pele e o melanoma cutâneo, fornecendo novos insights sobre a prevenção e o tratamento da enfermidade”, explicam os responsáveis.
O grupo realizou uma análise de Randomização Mendeliana de Duas Amostras (Two Sample Mendelian Randomization – TSMR) para investigar a relação causal entre flora cutânea e melanoma cutâneo. O método Inverse-Variance Weighted (IVW) foi utilizado como a abordagem primária para avaliar a relação causal sob investigação. Além disso, uma coorte externa independente foi empregada para validar os achados iniciais, seguida por uma meta-análise dos resultados consolidados.
Relação com a microbiota da pele
Os resultados mostraram que nove variações genéticas da flora da pele têm uma relação causal com o melanoma cutâneo na coorte de treinamento. Os achados mostram, ainda, que os microrganismos ASV005, ASV008 e o gênero Anaerococcus foram os fatores de proteção para a doença. Em contrapartida, a classe Betaproteobacteria, o gênero Propionibacterium, ASV004, ASV035, ASV063 e o filo Proteobacteria foram os fatores de risco.
Embora essas nove floras cutâneas não tenham sido confirmadas na coorte de teste, quatro permaneceram significativas na meta-análise após a integração dos resultados de ambas as coortes. Além disso, a análise indicou que três microbiotas da pele ainda estavam significativamente associadas com a enfermidade após contabilizar as interações entre diferentes floras da pele na coorte de treinamento.
Em conclusão, o papel da microbiota cutânea não deve ser negligenciado nas investigações sobre a patogênese dos tumores cutâneos. De acordo com os autores, a doença exibe associações entre seu início e progressão com a desregulação do ecossistema flora da pele. “No entanto, as relações causais precisas ainda devem ser elucidadas”, pontuam. O estudo ‘Unveiling the hidden causal links: skin flora and cutaneous melanoma’ foi publicado em dezembro de 2024 na Frontiers in Oncology