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Radioterapia de feixe externo

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Microbioma intratumoral como potencial biomarcador

Escrito por: Fernanda Ortiz

O câncer cervical (colo do útero) é o quarto tipo mais comum que acomete mulheres em todo o mundo. O principal tratamento envolve ressecção cirúrgica e radioterapia. Entre as opções estão a radioterapia de feixe externo, com doses igualmente divididas em um período prolongado, e a braquiterapia intracavitária, que envolve a inserção de material radioativo no interior da vagina. Entretanto, algumas pacientes apresentam resistência à radioterapia, resultando em baixa eficácia de resposta, recorrência ou metástase. Para explorar alvos potenciais para superar essa resposta negativa, um estudo conduzido por pesquisadores chineses investigou o potencial do microbioma intratumoral como biomarcador à radioterapia de feixe externo no câncer cervical.

Através de um estudo longitudinal prospectivo, os pesquisadores analisaram o sequenciamento de 16S rRNA de 36 pacientes com câncer cervical recebendo radioterapia pélvica. O estudo foi projetado para investigar assinaturas e diversidade de características microbianas presentes no parênquima tumoral e no microambiente que circunda o tumor nos grupos de resposta superior (RS) e resposta inferior (RI). “Para definir as áreas tumorais com base em imagens ponderadas foram realizados exames de ressonância magnética seriados em dois momentos: antes do início da radioterapia de feixe externo e antes do início da braquiterapia intracavitária”, detalham os autores.

A partir dos exames, os pesquisadores puderam identificar com precisão os microrganismos que poderiam prever a eficácia da radioterapia de feixe externo. Para isso, o estudo avaliou as influências potenciais dos principais fatores clínicos patológicos na diversidade microbiana. Por exemplo, tipo patológico, tamanho máximo do tumor, estado da metástase nos linfonodos e modalidade de tratamento da radioterapia. De acordo com os autores, os resultados indicaram que a composição dos microrganismos intratumorais era relativamente estável. Portanto, a triagem de táxons (organismos) específicos do microbioma intratumoral associados à eficácia da radioterapia de feixe externo seria mais confiável.

Achados

Entre os achados, o estudo identificou que os táxons específicos do microbioma intratumoral (BifidobacteriaceaeBeijerinckiaceae e Orbaceae) e a menor diversidade alfa em pacientes com câncer cervical estavam associados a melhores resultados de radioterapia de feixe externo. “A maior abundância de Bifidobacteriaceae dentro dos tecidos tumorais de câncer cervical é um indicativo importante”, avaliam. Esse probiótico anaeróbio Gram-positivo coloniza o trato intestinal, a cavidade oral e a vagina. Os autores acreditam que, assim, poderia aumentar a imunidade antitumoral ao recrutar e ativar os linfócitos T CD8+, facilitando melhores resultados de tratamento para mulheres que recebem radioterapia.

Em contrapartida, pouco se sabe sobre potenciais flutuações em Beijjerinckiacease e Orbaceae. “Para identificar se podem produzir resultados terapêuticos superiores, por exemplo, por meio da geração de prebióticos, necessita-se uma investigação mais criteriosa para elucidar os mecanismos envolvidos”, destacam. Os autores comentam, ainda, que a diversidade alfa do microbioma tumoral foi significativamente menor no grupo de resposta superior (RS), quando comparada com o grupo IR.

Além disso, não houve diferenças significativas na diversidade alfa dos microbiomas vaginal, intestinal, uretral e oral entre os grupos RS e RI. “Essa menor diversidade alfa implica uma composição relativamente mais simplificada do microbioma intratumoral, ou seja, com menos componentes de microrganismos prejudiciais”, especificam. Esse fato pode ser mais propício ao recrutamento e à ativação de linfócitos T CD8+.

Portanto, os resultados deste estudo ampliam a compreensão da possível função do microbioma intratumoral como biomarcador à radioterapia de feixe externo. Além disso, fornecem insights valiosos sobre a fisiopatologia e terapêuticas potenciais para pacientes com câncer cervical. O artigo ‘The intra-tumoral microbiome as a potential biomarker of response to external beam radiation therapy in cervical cancer’ foi publicado em outubro de 2024 no Journal of Translational Medicine.

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