A constipação intestinal se caracteriza por uma frequência reduzida de defecação e afeta aproximadamente 15% da população no mundo. Ao longo do tempo, muitas investigações mostraram que os probióticos podem atenuar a constipação, tanto em modelos animais quanto em testes em humanos. Assim, os benefícios dos probióticos para o alívio da constipação são amplamente aceitos pela ciência. Entretanto, os mecanismos que envolvem os metabólitos intestinais ainda não estão totalmente claros. Por isso, cientistas chineses investigaram os efeitos do Lactobacillus casei Shirota (LcS) em pacientes constipados.
O Lactobacillus casei Shirota é conhecido pelo alívio da constipação em diferentes populações. “Estudos duplo-cegos aleatórios controlados por placebo já mostraram que a cepa pode melhorar a defecação e aliviar os sintomas de constipação”, afirmam os autores. Neste estudo, os efeitos de alívio da constipação foram avaliados em adultos constipados. Além disso, os metabólitos intestinais envolvidos no alívio da constipação induzida por LcS foram investigados por abordagens metabolômicas.
De acordo com os autores, os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) são produzidos principalmente pela fermentação de carboidratos no cólon e contribuem para a saúde do corpo humano. “Para constipação, níveis reduzidos de AGCC demonstraram ter uma associação negativa com tempo de trânsito prolongado em alguns estudos”, detalham.
Além disso, recentemente foi descoberto que os precursores de produtos do metabolismo de proteínas, como triptofano e 5-hidroxitriptofano (5-HTP), estavam ligados negativamente a um tempo de trânsito colônico prolongado. Ademais, a liberação intraluminal de 5-hidroxitriptamina (5-HT) poderia ser estimulada por AGCC.
O estudo
Dezesseis pacientes constipados e 22 participantes não constipados foram recrutados para o experimento. Os indivíduos consumiram 100ml de uma bebida com LcS por dia durante 28 dias. Laxantes, antibióticos, medicamentos ou outros tipos de produtos lácteos fermentados não poderiam ser usados pelos participantes do estudo.
Amostras fecais foram coletadas no dia 0 e dia 28, e foram transportadas para o laboratório em até quatro horas em recipientes frios (<10 °C) e armazenadas a -80 °C até a análise. Os metabólitos fecais não voláteis foram determinados por cromatografia gasosa (GC) e espectrometria de massa (MS). Já os metabólitos alvo foram verificados em um modelo de camundongo constipado.
Descobertas
Em pacientes constipados, a intervenção com LcS melhorou significativamente a frequência de defecação (de 4,81 para 7,81 vezes por semana), consistência das fezes (de 2,52 para 3,68) e sintomas relacionados à constipação. Além disso, um total de 14 metabólitos fecais não voláteis foi obtido como metabólitos potenciais relacionados à constipação regulados por Lactobacillus casei Shirota. Dentre esses metabólitos, o ácido pipecolínico (PIPA) teve uma correlação positiva significativa com a frequência de defecação em pacientes constipados.
“O PIPA promoveu significativamente a taxa propulsiva do intestino delgado (de 25,45 para 39,68%) e aumentou o número de pellets fecais (de 30,38 para 57,38 pellets) em camundongos constipados”, afirmam os autores. Enquanto isso, 5-hidroxitriptamina (5-HT) e acetilcolina (ACh) no tecido colônico podem estar parcialmente envolvidas no alívio da constipação mediada por PIPA.
Em conclusão, o PIPA foi um mediador metabólico no intestino que participou do alívio da constipação induzida por LcS. O artigo ‘Lactobacillus casei strain Shirota alleviates constipation in adults by increasing the pipecolinic acid level in the gut’ foi publicado em 2019 na Frontiers in Microbiology.
