Considerada a emergência gastrointestinal mais comum e perigosa entre recém-nascidos, a enterocolite necrosante é uma inflamação que afeta a superfície interna do intestino grosso e delgado. Segundo a ONG Prematuridade.com, a doença acomete até 0,7% dos bebês nascidos vivos, 7% dos pacientes internados em UTI neonatal e até 8% dos recém-nascidos com menos de 1,5 kg. Embora as causas exatas ainda não sejam completamente compreendidas, sabe-se que a enfermidade está associada a uma irrigação sanguínea inadequada no intestino que pode causar danos no tecido intestinal.
De acordo com a médica neonatologista Silmara Possas, coordenadora das UTIs do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR), a doença pode levar a sérias complicações. Uma delas é a desnutrição severa do bebê. “As causas não são totalmente esclarecidas pela ciência, no entanto, a prematuridade é um fator de risco significativo”, comenta. O risco é especialmente maior para os recém-nascidos que necessitam de alimentação com fórmulas artificiais por não conseguirem ser amamentados com o leite materno.
O diagnóstico da doença é realizado através de avaliação clínica, a partir dos sintomas que a criança apresenta, e de exames de imagem e sangue. Entre os sinais de alerta para enterocolite necrosante estão distensão abdominal, fezes com sangue, apatia e letargia, vômitos amarelados ou esverdeados, dificuldade na alimentação, febre ou hipotermia. “Apesar de os primeiros sintomas serem sutis, essa condição pode causar danos ao tecido intestinal e, em casos severos, ser fatal”, afirma a neonatologista.
Tratamento é desafiador
A doença exige rápido diagnóstico e tratamento imediato de acordo com a gravidade de cada caso. O tratamento é complexo e envolve várias abordagens. Os cuidados e intervenções podem ser feitos com a suspensão temporária da alimentação oral – substituída pela nutrição parenteral, através do uso de antibióticos e com monitoramento em UTI neonatal. “Em casos mais graves, pode haver necessidade da realização de procedimentos cirúrgicos”, observa.
Quando o tratamento clínico não consegue controlar a progressão da doença pode ocorrer perfuração ou necrose intestinal. Se a cirurgia for inevitável, geralmente é realizada uma laparotomia exploratória. Com a técnica, o cirurgião examina o intestino e decide qual a melhor abordagem. Em muitos casos, a parte necrosada do intestino precisa ser removida para evitar a propagação da infecção e o risco de perfuração. “Cada intervenção é feita com o máximo rigor e cuidado, pois a prioridade é preservar a vida do bebê”, enfatiza a médica.
Além disso, o período pós-operatório requer cuidados intensivos, pois o bebê pode enfrentar desafios adicionais. Entre os exemplos estão desequilíbrios eletrolíticos, infecções secundárias e dificuldades nutricionais. “A recuperação é gradual e exige monitoramento clínico. Em alguns casos, pode ocorrer má absorção de nutrientes e, consequentemente, atrasos no crescimento e desenvolvimento”, observa a especialista.
Prevenção
Embora nem todos os casos de enterocolite necrosante possam ser evitados, algumas medidas ajudam a reduzir o risco. “O leite materno é um dos principais aliados na prevenção da enterocolite necrosante, pois desempenha o papel fundamental de fortalecer o sistema imunológico do bebê e auxiliar no desenvolvimento saudável da microbiota intestinal”, reforça a neonatologista. Além disso, os cuidados pré-natais para evitar fatores de risco como prematuridade, baixo peso ao nascer e infecções sistêmicas são essenciais para diminuir as chances de desenvolvimento da doença.