A doença hepática alcoólica (DHA) consiste em uma série de condições hepáticas causadas pelo consumo excessivo de álcool em longo prazo. E uma das condições mais comuns é a lesão hepática alcoólica crônica, que causa distúrbio do metabolismo lipídico e desequilíbrio da microbiota intestinal. Além disso, os distúrbios microecológicos intestinais e a endotoxemia provocados pela ingestão excessiva de álcool desempenham um papel importante na ocorrência e desenvolvimento de lesão hepática alcoólica. Assim, alguns estudos sugerem que os probióticos poderiam auxiliar no metabolismo lipídico e na microflora intestinal desses pacientes.
Os tratamentos clássicos envolvem principalmente uma combinação de abstinência alcoólica, melhoria da nutrição, tratamento da lesão hepática e prevenção ou reversão do progresso da fibrose hepática ou promoção da regeneração hepática. Entretanto, estudos demonstram, por exemplo, que a suplementação adequada de probióticos pode desempenhar um bom papel terapêutico na reparação de lesões na mucosa intestinal. Desta forma, protege o fígado e previne o câncer e a depressão.
Por isso, cientistas chineses desenvolveram um experimento com o objetivo de investigar o efeito de Lactobacillus casei Shirota (LcS) em pacientes com lesão hepática alcoólica. Este estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo envolveu 158 pacientes com a condição, com idades entre 30 e 65 anos, que atendiam aos critérios das Diretrizes de Diagnóstico e Tratamento de Doença Hepática Alcoólica (2018).
Métodos
Os participantes foram randomizados para três tratamentos por 60 dias. O grupo de baixa dose (LP) recebeu 100ml de Lactobacillus casei Shirota, enquanto o grupo de alta dose (HP) ingeriu 200ml de LcS. Ao mesmo tempo, o grupo controle positivo (PC) recebeu bebidas especiais sem Lactobacillus casei ativo, enquanto 20 pessoas saudáveis foram classificadas como grupo controle normal (NC). A sequência de alocação foi gerada por médicos/enfermeiros no centro de pesquisa para que os participantes fossem alocados nos grupos de intervenção.
“A atribuição aleatória foi realizada por um dos investigadores que não estava envolvido no estudo, usando números aleatórios gerados por computador”, explicam os autores. Durante a intervenção, nem os participantes nem os enfermeiros/médicos do centro de estudo conheciam os tipos de probióticos. O estudo foi registrado no Comitê de Especialistas em Ética Médica do CDC de Qingdao (No. DIC2014J3).
Amostras de sangue em jejum foram coletadas no início e após 60 dias de intervenção. Os pesquisadores fizeram ensaios do índice sérico da função hepática (alanina aminotransferase [ALT], aspartato aminotransferase [AST], gama-glutamiltransferase [GGT], bilirrubina total [TBIL], bilirrubina direta [DBIL] e bilirrubina indireta [IBIL]).
Além disso, o perfil lipídico foi avaliado incluindo colesterol total (CT), triglicerídeos (TG), colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL-C) e colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-C). O nível de endotoxina no plasma foi detectado por kit quantitativo de lisado de Limulus com matriz cromogênica.
Resultados
Os níveis séricos de TG e LDL-C no grupo HP diminuíram significativamente em relação ao grupo PC. Após a suplementação de Lactobacillus casei Shirota houve um aumento significativo na quantidade de Lactobacillus e Bifidobacterium, quando comparado com o grupo PC. “O metabolismo lipídico entre a linha de base e o desfecho mostrou que TG e LDL-C no grupo HP foram significativamente diferentes antes e após a intervenção”, detalham os autores. Enquanto isso, TG e LDL-C séricos nos pacientes tratados com suplementos de Lactobacillus casei diminuíram significativamente em relação ao grupo controle positivo.
“Em resumo, descobrimos que os suplementos de Lactobacillus casei Shirota podem melhorar potencialmente o metabolismo lipídico e regular os distúrbios da microbiota intestinal em pacientes com lesão hepática alcoólica”, acentuam. O estudo ‘Effect of Lactobacillus casei on lipid metabolism and intestinal microflora in patients with alcoholic liver injury’ foi publicado em 2021 no European Journal of Clinical Nutrition.