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A dispareunia e o vaginismo

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Dor durante as relações sexuais não é normal

Escrito por: Fernanda Ortiz

O sexo deve ser uma experiência de prazer e intimidade, não de dor ou desconforto. No entanto, muitas mulheres sofrem com essa condição e omitem a queixa dos seus parceiros, e até mesmo dos médicos especialistas.  Em geral, isso ocorre por tabu ou vergonha de discutir abertamente questões relacionadas à sua sexualidade. Entre os principais motivos que levam a esse problema estão a dispareunia e o vaginismo, dois quadros de saúde que, apesar de comuns, nem sempre são diagnosticados.

De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a dor durante a relação sexual é relativamente comum e acomete cerca de 39,5% das brasileiras entre 40 e 65 anos. Apesar disso, ter dor ou desconforto durante as relações sexuais não é normal. Ademais, não tem relação com o formato de vagina – exceto em casos raríssimos. Na maioria dos casos, as dores podem ser causadas por infecções, problemas na musculatura pélvica ou por questões psicológicas.

O ginecologista Thiers Soares, do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), lembra que é fundamental identificar as causas que levam a esse quadro. “Para evitar que o problema persista, o especialista deve realizar um protocolo terapêutico mais adequado à condição da paciente”, acentua o médico, que é presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (SOBRACIL) no Rio de Janeiro

Causas mais comuns

Termo científico para descrever a dor recorrente do ato sexual, a dispareunia é uma condição que pode surgir durante ou após o sexo, na introdução de um espéculo para um exame ginecológico ou ao usar um absorvente interno. O ginecologista explica que esse quadro pode ser classificado como superficial ou profundo. “A dispareunia superficial é aquela que acomete o início do canal vaginal (principalmente durante a penetração), enquanto a profunda está associada à dor na pelve (mais próxima do fim do canal vaginal, na região do colo do útero)”, descreve.

Se for primária, essa condição pode ocorrer desde a primeira relação sexual e persistir ao longo da vida. No entanto, pode surgir após anos de relações sexuais satisfatórias (secundária) ou apenas com determinados parceiros ou situações (situacional). Para um diagnóstico correto, é preciso identificar se o incômodo ocorre durante a penetração profunda ou logo no início da relação. Essa informação é importante, pois pode ser indicativo de outras condições de saúde.

“Geralmente, a dor profunda pode indicar endometriose ou a presença de miomas. Já o desconforto no início do ato pode estar ligado a questões musculares”, explica o especialista. Além de histórico e queixas apresentadas pela paciente, devem ser solicitados exames ginecológicos, testes laboratoriais e, em alguns casos, exames de imagem para detectar possíveis condições.

O ginecologista acrescenta que a dispareunia pode ter, ainda, um gatilho emocional. Por isso, uma avaliação com médico psiquiatra ou psicólogo pode ser indicada para identificar possíveis causas como ansiedade, estresse, traumas ou dificuldades no relacionamento. Em muitos casos, a dispareunia pode ser tratada com sucesso. Entretanto, o caminho para a recuperação exige paciência e um tratamento adequado.

Contração muscular involuntária

Outra condição comum associada ao desconforto sexual é o vaginismo, uma contração involuntária dos músculos do assoalho pélvico que envolvem a vagina e fazem com que fique mais estreita. O problema pode ocorrer antes ou durante a relação sexual, dificulta a penetração e provoca dor. A real incidência desta condição na população ainda é desconhecida. No entanto, algumas pesquisas indicam que até 40% das mulheres podem vivenciar algum grau de vaginismo ao longo da vida.

Entre as possíveis causas estão o tabu em falar sobre sexo ou a sexualidade, história de trauma ou abuso sexual, medo de penetração, disfunção do assoalho pélvico ou danos vaginais após o parto. O diagnóstico do vaginismo é clínico. “Através de avaliação da paciente, seguida de exame clínico e ginecológico completo, é possível identificar a presença de anormalidades ou infecções na região genital”, comenta o especialista.

O tratamento normalmente requer uma abordagem multidisciplinar, incluindo fisioterapia para o assoalho pélvico, terapia, aconselhamento para casais, exercícios de relaxamento e, em alguns casos, o uso de dilatadores vaginais. O objetivo terapêutico é controlar os aspectos mentais e físicos que impedem uma penetração vaginal confortável. Independentemente da condição, o especialista afirma que a dispareunia e o vaginismo precisam ser avaliados e tratados adequadamente.

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