Encontrar o equilíbrio entre o uso de telas e a saúde das crianças é um grande desafio para pais e cuidadores. Uma pesquisa recente mostrou que 79% das crianças brasileiras de até 12 anos de idade passam quase quatro horas por dia usando o celular. O período é superior ao recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que sugere apenas uma hora para crianças de 2 a 5 anos, duas horas na faixa etária de 6 a 10 anos e até três horas diárias para o grupo acima de 10 anos. Mesmo que seja difícil evitar completamente o uso de telas, é preciso adotar medidas que incentivem as crianças a se envolverem em outras atividades, evitando comprometer seu desenvolvimento intelectual.
Para a psicóloga Monica Machado, uma rotina digital que extrapola os limites sugeridos pela SBP pode comprometer todo o desenvolvimento das crianças. “As telas acabam ocupando o tempo das atividades que promovem o desenvolvimento do cérebro, do corpo, da psicomotricidade, das habilidades sociais, da estrutura psicológica e cognitiva”, observa. Isso pode impedir ou retardar a evolução natural e saudável das crianças, além de gerar risco de obesidade, alterações do sono e comportamentos agressivos e ansiosos, entre outras condições.
A estimulação gerada pelas telas ativa o sistema límbico no cérebro, região que envolve as emoções e o mecanismo de ganho e recompensa. De acordo com a psiquiatra especialista em Infância e Adolescência Daniele H. Admoni, esse efeito acaba sendo registrado pelo cérebro da criança, que associa as telas ao estímulo positivo, ou seja, a um meio de combater o tédio e proporcionar bem-estar. “Ao desligar o aparelho, a criança olha ao redor e não encontra nada compatível à torrente sensorial que as telas oferecem”, explica a médica, que é pesquisadora e supervisora na residência de Psiquiatria na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp).zPara piorar, muitos pais incentivam o uso das telas para conseguir ter um pouco de tranquilidade, evitar que os filhos fiquem entediados e, consequentemente, agitados. “Dessa forma, transformam o celular ou o tablet como únicos meios de estímulos à criança”, lamenta a psicóloga Monica Machado. Portanto, quando a criança não responder bem às regras sobre o uso das telas, é preciso ter paciência e firmeza.
A psiquiatra Daniele H. Admoni acrescenta que o mais importante é que este processo seja natural e que a criança perceba que as mudanças propostas são positivas. Para evitar que o tempo de tela ultrapasse o ideal de acordo com a idade, as especialistas citam algumas recomendações que podem ajudar os pais nessa difícil tarefa de conciliar o uso de telas e a saúde das crianças.
Siga as dicas!
Deixe a criança entediada – Permita que a criança busque a estimulação que seu cérebro precisa. Se notar dificuldade, invente uma atividade juntos. Aos poucos, vá deixando que brinque sozinha evitando criar uma dependência da presença dos pais.
Motive brincadeiras que não envolvam eletrônicos – Presenteie a criança com um brinquedo novo. Incentive jogos de construção, massinha de modelar, pinturas e quebra-cabeça com o tema do personagem favorito da criança, ou até brinquedos artesanais.
Invista em passeios – Sair de casa mais vezes com as crianças é uma maneira eficiente de tirá-las das telas. Vá a uma praça, parque ou no parquinho onde poderão se exercitar e brincar com outras crianças, o que é fundamental para a sociabilização. Promova também passeios ao zoológico, peças teatrais infantis, exposições ou piqueniques ao ar livre.
Proponha desafios e como reorganizar os brinquedos – Peça para a criança escolher um brinquedo que não lhe interesse mais e sugira doar para alguma instituição. Será uma excelente oportunidade de ensiná-lo a exercer a solidariedade.
Aposte nos livros – A leitura, que auxilia no desenvolvimento cognitivo, socioemocional e cultural, deve ser introduzida junto com os demais brinquedos como mais um objeto de prazer e de exploração do mundo.
Participe da leitura – Caso a criança não demonstre entusiasmo pelos livros, os pais devem fazer a leitura para estimular esse gosto. Além de ser uma oportunidade de estarem juntos, a atividade ajuda a criança a desenvolver linguagem, compreensão, imaginação, criatividade, entre outras habilidades que os livros podem proporcionar.
Demonstre interesse pelos trabalhos da escola – Perguntar o que a criança está fazendo, como está fazendo, se dispor a ajudá-la no que for preciso e elogiar suas evoluções é muito importante.
Crie um ‘cronograma digital’ – Elabore com a criança um cronograma semanal com as atividades livres e obrigatórias, incluindo o tempo dedicado às telas. Essa é uma forma divertida e leve de incentivar a criança sobre quando e como deve organizar o seu tempo. Mais do que limitar o uso das telas, isso ensina desde cedo a criança a ter disciplina e organização com suas tarefas e responsabilidades.