O diabetes mellitus é uma doença caracterizada pela insuficiência da produção da insulina. Esse hormônio é responsável por transportar a glicose (açúcar) que será usada para a produção de energia no organismo. Assim, a insuficiência na produção ou função da insulina pode ocasionar um aumento no nível da glicose (glicemia) na corrente sanguínea, gerando diversas complicações à saúde. Importante em qualquer fase da vida, o controle da glicemia é fundamental durante o período pré-natal, tendo em vista os possíveis riscos para a saúde da mãe e do bebê.De acordo com a médica ginecologista Elaine Christine Dantas Moisés, presidente da Comissão de Hiperglicemia e Gestação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), a hiperglicemia durante a gravidez pode ter diferentes origens. Esse quadro caracterizado pelo aumento do nível da glicose no sangue pode surgir a partir do diabetes pré-gestacional ou identificado durante a gestação. “Por exemplo, o diabetes mellitus gestacional (DMG) ocorre exclusivamente na gravidez”, comenta.
Diferenciar a origem é importante, uma vez que o momento em que a hiperglicemia se estabeleceu pode levar a diferentes prognósticos para a saúde da mãe e para o desenvolvimento do bebê. Para evitar problemas, a médica orienta que mulheres com diagnóstico de diabetes prévio que desejam engravidar planejem a gestação, levando em consideração o adequado controle da glicemia.
Da mesma forma, as gestantes sem diagnóstico prévio devem realizar avaliação periódica da glicemia durante toda a gravidez. “Esse acompanhamento possibilita a identificação precoce de quadros de glicemia e, dessa forma, é possível fazer o tratamento oportuno sem prejuízo para a mãe e o bebê”, avalia.
Controle evita complicações
O controle adequado dos níveis de glicemia durante toda a gestação é importante para evitar as possíveis complicações decorrentes da hiperglicemia. Essa atenção deve ser dada especialmente para mulheres com DMG, que têm mais chance de desenvolver pressão alta. Afinal, esse quadro de hipertensão pode evoluir para pré-eclâmpsia, uma condição grave que afeta o funcionamento dos órgãos e a saúde da placenta que alimenta o bebê.
A médica explica que o diabetes descompensado também está associado ao polidrâmnio (aumento da quantidade de líquido amniótico) e parto antes do tempo ideal. “Além disso, a mulher que desenvolve diabetes gestacional apresenta risco aumentado para o desenvolvimento de diabetes tipo 2 no futuro”, comenta.
Ademais, a hiperglicemia também pode ocasionar complicações para o feto, inclusive com risco de perda gestacional. “Quando a hiperglicemia ocorre durante o período de formação dos órgãos do feto, aumenta a probabilidade de abortos espontâneos, morte intrauterina ou malformações congênitas”, alerta a médica. Além disso, o descontrole glicêmico ao longo da gestação, faz com que o neonato tenha tamanho maior do que o normal, dificultando o parto, e apresente problemas respiratórios logo ao nascer.
Como estava acostumado a receber mais açúcar da mãe durante a gestação, o bebê pode apresentar hipoglicemia (queda no nível de açúcar no sangue) e icterícia ao nascer. “Além disso, a exposição a altos níveis de glicose durante a gestação aumenta o risco de obesidade e diabetes na infância e vida adulta”, orienta a especialista.z
Estilo de vida saudável
Além de monitorar a glicemia, o tratamento da hiperglicemia durante a gravidez envolve adotar um estilo de vida mais saudável. Isso inclui mudanças na alimentação e a prática de atividade física conforme orientações da equipe de saúde especializada. A médica destaca, ainda, que quando essas medidas não são suficientes para controlar os níveis de glicose, pode ser recomendado o uso de insulina. “A insulina é uma opção eficaz e segura para tratar a hiperglicemia na gestação, ajudando a prevenir complicações tanto para a mãe quanto para o desenvolvimento do bebê”, assegura.
Portanto, as equipes de saúde desempenham um papel essencial na prevenção das doenças crônicas não transmissíveis, especialmente no cuidado de mulheres e bebês que enfrentam complicações causadas por hiperglicemia. “Para isso, é necessário implementar uma estrutura de saúde adequada e interdisciplinar, envolvendo profissionais de diferentes áreas para oferecer suporte contínuo e preventivo”, reforça a especialista.
Caso as medidas preventivas de saúde não sejam suficientes, os esforços devem ser direcionados para o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, o que inclui interromper o ciclo transgeracional de ‘obesidade-diabetes’. Em resumo, isso significa evitar que a condição se perpetue entre gerações através da promoção de melhores condições de saúde no longo prazo.