A cirurgia fetal fetoscópica é um tipo de cirurgia minimamente invasiva realizada ainda durante a gestação com o objetivo de tratar malformações ou condições graves no feto, antes do nascimento. O procedimento é realizado por meio de um procedimento chamado fetoscopia. A técnica consiste na inserção de um pequeno tubo com câmera e instrumentos cirúrgicos (fetoscópio) através do abdômen da mãe e da parede do útero, geralmente guiado por ultrassonografia.
A fetoscopia é usada para correção de encefalocele. Nesta malformação congênita rara do tubo neural ocorre a protrusão do tecido cerebral e das meninges, através de um defeito no crânio. Com a cirurgia, a equipe médica corrige a exposição do tecido cerebral que está fora do crânio e o fecha. “A técnica permite que o feto continue seu desenvolvimento”, explica o médico Renato Ximenes, coordenador das equipes de Medicina Fetal do Vera Cruz Hospital, em Campinas, e de Cirurgia Fetal da Fundação Medicina Fetal Latino-americana (FMFLA).
Microcefalia
O principal objetivo da cirurgia fetal fetoscópica é permitir que o bebê, ao nascer, não apresente microcefalia. Além disso, a fetoscopia permite que a criança não venha a apresentar episódios de convulsão e possa ter um desenvolvimento infantil próximo ao normal. De acordo com o médico, a cirurgia envolve dois pacientes ao mesmo tempo e, por isso, é fundamental que todos os riscos sejam reduzidos ao máximo também para a mãe.
“Com a cirurgia fetal fetoscópica, a recuperação da mãe é muito mais rápida”, garante o médico. Além disso, os riscos de complicações e o tempo de internação são menores, o pós-cirúrgico é menos dolorido, o risco de ruptura uterina diminui e a paciente pode ter um parto normal, se desejar.
No entanto, a técnica não é recomendada para qualquer caso, e existem alguns critérios que precisam ser seguidos. Dentre eles estão o tipo de lesão, as características clínicas da mãe e a idade gestacional. Além disso, é necessária uma consulta com médico especialista em Medicina Fetal para fazer um estudo genético do bebê. Essa avaliação pode ser feita por meio de ultrassom e ressonância magnética, por exemplo.
Tecnologia no Brasil
Em dezembro de 2024, o Brasil sediou a primeira cirurgia mundial de fetoscopia para a correção da encefalocele. O procedimento foi feito sem a necessidade de abrir o útero materno e levou em torno de três horas. A mãe e o feto, que estava na 24ª semana de gestação, se recuperaram bem. A cirurgia fetal fetoscópica foi realizada no Vera Cruz Hospital por uma equipe de seis especialistas da instituição e da FMFLA, com a participação do Texas Children’s Hospital.
“Já tínhamos expertise na realização deste tipo de cirurgia para a correção da coluna do bebê, chamada cirurgia fetal espinha bífida”, detalha o médico Renato Ximenes. Assim, a equipe realizou o procedimento e corrigiu a encefalocele com a mesma técnica. Antes de usar a fetoscopia, a equipe corrigia a encefalocele utilizando outro método, que exigia a abertura do útero da mãe.