Segundo a última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2019), 9,2% das mulheres de 25 anos de idade ou mais no Brasil foram submetidas à cirurgia para retirada do útero. Apesar de ser uma intervenção comum, a histerectomia ainda é um procedimento cercado de dúvidas, especialmente sobre o efeito no tratamento da endometriose.
A histerectomia envolve a retirada do útero – total ou parcial –, visando tratar diversas condições ginecológicas. Entre elas estão câncer, fibromas uterinos e endometriose grave. De acordo com o médico ginecologista Patrick Bellelis, colaborador do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), há mitos e verdades relacionados ao assunto. “É necessário esclarecer as incertezas sobre o procedimento e como ajudar no controle da endometriose”, pontua.
Dentre as dúvidas estão se a histerectomia é a solução para a endometriose, quanto tempo demora a recuperação e se, depois da retirada do útero, é necessário fazer reposição hormonal. Por exemplo, existem sintomas e outras condições decorrentes do quadro de endometriose que podem se desenvolver, culminando na necessidade da intervenção cirúrgica de retirada do útero. Mas a histerectomia por si só não é cura para endometriose.
Tire suas dúvidas!
- A histerectomia é a solução para a endometriose.
Mito – Este é um dos erros mais comuns em torno da histerectomia. A ideia de que este procedimento cirúrgico seja a única alternativa para endometriose, ou a cura para a doença, é equivocada. A endometriose se situa fora do útero, então, a cirurgia isolada sem remoção dos demais focos e lesões geralmente não é eficaz no tratamento da dor pélvica causada pela condição.
“Há diversos outros tratamentos como terapias hormonais, medicamentos e intervenções minimamente invasivas que podem ser eficazes dependendo do quadro clínico da paciente”, comenta o especialista. A histerectomia é considerada apenas em casos específicos e após avaliação cuidadosa das necessidades de cada mulher pelo médico especialista.
- A recuperação da histerectomia leva tempo.
Verdade – A recuperação da cirurgia não costuma ser rápida e a duração varia de cada pessoa, exigindo muita atenção e cuidado. O processo deve ser acompanhado de perto por um profissional para garantir que evolua de forma segura. Além disso, o foco é ajudar a paciente a lidar com todas as mudanças físicas e emocionais que podem ocorrer no pós-operatório.
Existem casos de recuperação rápida, mas geralmente costuma ser mais demorada do que se imagina. O médico afirma que é preciso respeitar os limites do corpo, seguir as orientações, evitar atividades físicas intensas e dar tempo para a cicatrização ocorrer adequadamente. “O retorno às atividades normais pode levar de semanas a meses, dependendo de fatores como a extensão da cirurgia, o estado de saúde geral da paciente e os cuidados pós-operatórios”, acrescenta.
- Após a retirada do útero, é obrigatório fazer reposição hormonal.
Mito – Muitas mulheres acreditam que a histerectomia implica automaticamente na reposição hormonal. No entanto, essa ideia é falsa em princípio, mas deve-se observar cada caso individualmente. A necessidade de reposição hormonal após a retirada do útero depende da idade da paciente, do motivo da cirurgia e, principalmente, se os ovários foram preservados ou não.
Quando os ovários são mantidos, a produção de hormônios continua normalmente e a reposição hormonal pode não ser necessária. Entretanto, de acordo com o médico, é importante enfatizar que cada caso é único. Por isso, um diagnóstico preciso e o acompanhamento adequado são essenciais para a escolha do melhor tratamento.
“A mulher deve buscar a orientação de um especialista que possa avaliar sua situação clínica e discutir as alternativas terapêuticas”, reforça o médico. Portanto, deve-se avaliar junto ao médico as opções de tratamentos menos invasivos sempre que possível, visando o bem-estar e a qualidade de vida.