Em 2012, a Yakult Honsha (matriz localizada em Tóquio) e a Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA) iniciaram uma pesquisa conjunta. Os pesquisadores pretendem investigar o efeito do consumo do probiótico Lactobacillus casei Shirota (LcS) sobre o sistema imunológico e a microbiota intestinal fora da Terra.
Por ser uma estirpe probiótica muito bem estabelecida, a expectativa dos cientistas é que o LcS seja uma contramedida promissora para minimizar os efeitos do ambiente inóspito na estação espacial. Desta forma, será possível contribuir para a manutenção e a melhoria da saúde e do desempenho dos astronautas.
A Yakult e a JAXA enviaram amostras de Lactobacillus casei Shirota liofilizado, especialmente preparadas para ingestão. O LcS foi preparado para ingestão e armazenado por um mês na International Space Station (ISS) ‘KIBO’ Japan Experiment Module (módulo de experiência do Japão), a 400 km acima da Terra. Em 2017, os astronautas que permaneceram longos períodos na ISS passaram a consumir continuamente o probiótico Lactobacillus casei Shirota.
O experimento
Intitulado ‘Estação Espacial Internacional ‘KIBO’ – Avaliação da estabilidade por experimento a bordo no Módulo Experimental Japonês’, o experimento verificou a quantidade de bactérias viáveis nas amostras, as propriedades de fermentação da cepa, as informações genéticas e as propriedades imunomoduladoras do probiótico LcS liofilizado.
Para o transporte do probiótico ao espaço foi desenvolvida uma cápsula contendo LcS liofilizado (cápsula LcS), capaz de mantê-lo viável por longos períodos em temperatura ambiente. Para os experimentos espaciais também foi criada uma embalagem contendo as cápsulas LcS (Probiotic Package) específicas para atender aos requisitos operacionais da ISS.
O ‘Probiotic Package’ foi lançado ao espaço e armazenado na International Space Station por um mês. A embalagem foi recuperada da ISS e, em seguida, foram avaliados os efeitos das condições ambientais (temperatura e doses de radiação espacial). Além disso, foram analisadas as propriedades básicas do LcS em comparação com os controles que estavam armazenados na Terra durante o mesmo período.
A 8ª missão comercial de reabastecimento (Spx-8) da espaçonave SpaceX/Dragon foi usada para o lançamento das amostras (FS) do Probiotic Package à International Space Station e pelo retorno à Terra. Após um mês de armazenamento na ISS, o FS foi devolvido à Terra com sucesso e sem danos à embalagem externa, às cápsulas, ao registrador de dados de temperatura ou Bio PADLES.
A validade dos materiais e a configuração do Probiotic Package foram revisadas pelo Gabinete de Segurança do Espaço Humano e Garantia da Missão da JAXA e pelo Departamento de Segurança e Garantia do Produto da Japan Manned Space Systems Corporation. Os pacotes foram aprovados para estiva na ISS antecipadamente.
Resultados
O experimento mostrou que é possível manter a viabilidade e as propriedades probióticas básicas do LcS armazenado na ISS. Assim, os cientistas confirmaram que a cepa Lactobacillus casei Shirota mantém as mesmas funções de probiótico em ambiente espacial que as amostras armazenadas na Terra.
De acordo com os pesquisadores, o estabelecimento da parceria com a JAXA para o estudo na ISS acelerou as investigações sobre as respostas fisiológicas de astronautas com estadas espaciais prolongadas. O artigo ‘Probiotics into outer space: feasibility assessments of encapsulated freeze-dried probiotics during 1 month’s storage on the International Space Station’, com autoria de cientistas da JAXA e do Instituto Central Yakult, foi publicado em 2018 no jornal on-line Scientific Reports, integrante da revista científica britânica Nature – doi: 10.1038/s41598-018-29094-2.
Prejuízos à saúde
Pesquisas da Medicina Espacial revelaram que permanecer por um longo tempo em um ambiente de estresse complexo provoca declínio funcional e mudanças no equilíbrio de células imunes, conduzindo a uma diminuição da função imunológica. “O enfraquecimento do sistema imune dos astronautas que ficam muito tempo fora da Terra aumenta o risco de doenças infecciosas e de câncer, por exemplo”, afirmam. Ademais podem sofrer de outros males como perda de densidade óssea e atrofia muscular.