Segundo o Relatório Mundial de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2022, uma em cada oito pessoas no mundo vive com algum transtorno mental. Destes, a ansiedade e a depressão são os mais comuns, representando 60% dos casos. No Brasil, o cenário não é diferente. Enquanto cerca de 9,3% da população convive com a ansiedade, a depressão é responsável por afetar 5,8% dos brasileiros. Além de comprometer o bem-estar emocional, tais transtornos podem causar
, causando estreitamento dos vasos, aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca.
De acordo com a médica cardiologista Patrícia Oliveira, do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, coração e estado de espírito estão intimamente relacionados. “Transtornos mentais desencadeiam alterações biológicas importantes, mudando as vias de sinalização entre o sistema nervoso central e os órgãos”, afirma. Além disso, podem levar à elevação de citocinas inflamatórias, agravando condições como aterosclerose e isquemia miocárdica.
É consenso que os quadros de depressão e ansiedade se caracterizam pela hiperativação do sistema nervoso simpático, que prepara o organismo para reagir em situações de medo, estresse e excitação, assim como para a liberação de cortisol – principal hormônio do estresse. Como resultado, os indivíduos podem sofrer impactos na saúde do coração. “Entre os problemas associados estão a vasoconstrição e o aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca”, observa a cardiologista.
Um dos maiores exemplos do impacto das doenças mentais na saúde do coração tem nome: ‘síndrome do coração partido’. Essa cardiopatia induzida por estresse se manifesta de maneira similar ao infarto agudo do miocárdio. No entanto, seus portadores não apresentam lesões ateroscleróticas obstrutivas, caracterizadas pelo estreitamento e enrijecimento das artérias em decorrência do acúmulo de gordura em suas paredes. A médica explica que, na síndrome do coração partido, o estresse e a depressão ativam o sistema neuro-hormonal. Dessa forma, leva à liberação de substâncias que reduzem o fluxo sanguíneo no músculo cardíaco (vasoconstrição), e a uma possível lesão celular.zCuidados multidisciplinares
A abordagem multidisciplinar é essencial para prevenir os efeitos negativos da ansiedade e depressão para a saúde do coração. “O acompanhamento com cardiologistas, psicólogos e psiquiatras é fundamental, especialmente para pacientes que já passaram por eventos cardíacos”, esclarece a especialista. Entre as abordagens estão as terapias psicológicas e psiquiátricas que ajudam a tratar os transtornos mentais, reduzindo o risco cardiovascular.
Além disso, a prática regular de atividade física promove bem-estar emocional e melhora a saúde cardiovascular, enquanto a prescrição medicamentosa deve ser feita de acordo com os sintomas de cada paciente. Ademais, protocolos clínicos específicos permitem o rastreio precoce de transtornos mentais em pacientes cardíacos, o que melhora tanto a qualidade de vida quanto a sobrevida. “O equilíbrio emocional é tão importante quanto o controle de fatores de saúde tradicionais, como colesterol e pressão arterial. Portanto, ao cuidar da saúde mental também estamos cuidando da saúde do coração”, conclui a médica.