A cúrcuma é uma planta da família Zingiberaceae utilizada como condimento e corante. Além do uso culinário, essa planta originária do continente asiático tem sido alvo de inúmeras pesquisas devido ao seu principal composto bioativo: a curcumina. Apesar dos efeitos anti-inflamatório e antioxidante conhecidos, o potencial terapêutico da curcumina para prevenir e tratar doenças ainda é um desafio. E um dos motivos é a dificuldade de a substância ser absorvida pelo organismo.
Para analisar a biodisponibilidade da curcumina, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) desenvolveram um estudo de revisão em parceria com pesquisadores da University of Genoa, Carol Davila University of Medicine and Pharmacy and, University of Miami.
Os resultados trouxeram insights sobre as propriedades da curcumina e as estratégias para intensificar sua ação no organismo. Isso pode ocorrer tanto diminuindo seu metabolismo quanto aumentando a absorção por meio de nanoformulações – processo que utiliza nanotecnologia para reduzir o tamanho dos fármacos.
Nanoformulações
Nos últimos anos, a nanociência tem fornecido ferramentas importantes para solucionar problemas de insolubilidade e biodisponibilidade associados a moléculas hidrofóbicas (aversão à água e baixa solubilidade), como as da curcumina. De acordo com os autores, as nanoformulações analisadas abordam eficientemente uma série de vias de sinalização associadas a diversas doenças, alavancando potenciais benefícios anti-inflamatórios, antioxidantes e neuroprotetores.
Além de aumentar a dispersão da curcumina em soluções aquosas, as nanoformulações apresentam vantagens significativas em comparação aos métodos de administração convencionais. Os benefícios abrangem propriedades versáteis para o preparo e encapsulamento dos compostos bioativos, com tamanho de partícula ajustável e capacidade de modificar a farmacocinética.
De acordo com os autores, ao levar a um efeito terapêutico mais potente, a utilização de nanomedicamentos baseados em curcumina é, portanto, promissora na teranóstica médica. “Particularmente, o potencial terapêutico da curcumina pode ser benéfico no tratamento das necessidades farmacológicas individualizadas de pacientes com doenças inflamatórias, imunológicas e degenerativas, entre outras”, comentam.
Abordagens promissoras
A terapia combinada de curcumina em nanopartículas é outra abordagem benéfica. Entre os resultados promissores estão o aumento da bioatividade e estabilidade do composto bioativo, assim como a redução da dose diária do fitocomposto e os custos de tratamento associados.
Os autores comentam que há, ainda, uma necessidade de exploração aprofundada por meio de estudos abrangentes, especificamente sobre as biointerações entre estruturas celulares e nanopartículas de curcumina. “Desta forma, será possível obter uma melhor compreensão dos mecanismos envolvidos em sua absorção seletiva”, sugerem.
Além disso, a maioria das evidências publicadas sobre o tema são pré-clínicas, o que sugere a eficácia aprimorada de nanoformulações baseadas em curcumina com melhorias da biodisponibilidade e bioatividade. “Intervenções comparativas entre formulações convencionais de curcumina e nanocurcumina apoiaram essa conclusão em estudos com células, animais e humanos”, destacam os autores.
Entretanto, para estabelecer recomendações terapêuticas seguras específicas em relação a dosagens e tempo de administração são necessárias investigações futuras em grandes coortes humanas. O artigo ‘Enhancing the bioavailability and bioactivity of curcumin for disease prevention and treatment’ foi publicado em março de 2024 na revista Antioxidants.