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Doença de Parkinson

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Estudo global identifica estágios da doença de Parkinson

Escrito por: Fernanda Ortiz

Alterações em regiões cerebrais subcorticais estão ligadas a sintomas motores e não motores na doença de Parkinson. No entanto, associações entre expressão clínica e anormalidades morfológicas regionais dos gânglios da base, tálamo, amígdala e hipocampo não estão bem estabelecidas. Em busca de respostas, um estudo global analisou imagens cerebrais de mais de 2,5 mil pessoas portadoras da doença, de 20 países.

Conduzido por pesquisadores de diversas instituições de ensino e pesquisa, o trabalho identificou padrões de neurodegeneração e criou métricas para cada uma das cinco etapas clínicas da doença. Além de permitir desdobramentos importantes para avanços diagnósticos, os achados podem possibilitar que novos tratamentos sejam testados e monitorizados. 

Os dados para o estudo foram coletados entre setembro de 2016 e janeiro de 2022 e, posteriormente, reunidos pelo grupo de trabalho do Consórcio ENIGMA. Essa rede internacional reúne cientistas em genômica de imagem, Neurologia e Psiquiatria. O grupo tem por objetivo estudar a estrutura e função do cérebro com base em ressonância magnética (RM) de alta resolução e informações genéticas, entre outros dados de pacientes com doenças neurodegenerativas.

“Além de dados clínicos, o estudo analisou um total de 3.851 imagens de RM cerebral ponderadas em T1 3D de 2.525 indivíduos com a doença”, citam os autores. Destes, 35% eram mulheres com idade média de 63, 69 anos e 1.326 eram participantes controle – 46% deles eram mulheres com média de 60 anos. As imagens de RM foram coletadas e processadas pelas instituições de origem.

Os pesquisadores investigaram os efeitos da doença de Parkinson através de modelos univariados e multivariados, na espessura medial de 27.120 vértices de sete estruturas subcorticais bilaterais. Os autores explicam que a escala de Hoehn e Yahr (HY) foi utilizada para medir a progressão da doença, variando de HY1 a HY5, ou seja, estágio inicial, bilateral, instabilidade postural moderada, instabilidade postural grave e locomoção dependente. Além disso, foram observadas as correlações com sintomas motores e cognitivos.

Achados

No estudo, foram encontradas anormalidades locais de regiões cerebrais subcorticais em todos os estágios da doença – quando comparadas aos casos controles. Cada aumento de HY foi caracterizado por maior comprometimento nos domínios cognitivo e motor, bem como o maior tempo desde o diagnóstico. “O dado destaca a estreita relação entre o estadiamento de HY e a progressão clínica geral”, observam os autores.

Consequentemente, os padrões transversais de estágio HY se mostraram alinhados com o processo neurodegenerativo esperado na doença de Parkinson. Este achado sugere atrofia progressiva de sub-regiões seletivas dos gânglios da base e regiões límbicas. De acordo com os autores, tais dados se ajustam com os achados longitudinais em estágios leves a mais graves da doença que mostram, por exemplo, a atrofia mais acentuada no estriado e na amígdala.

Padrões amplamente simétricos e focais de forma anormal foram encontrados na doença em estágios iniciais. Enquanto isso, outros mais difusos foram verificados em todas as estruturas em estágios mais avançados. Para os autores, as evidências sugerem uma distribuição sistemática da patologia em subcampos estriatais com progressão da doença de Parkinson.

Métricas

De acordo com os autores, as descobertas deste grande estudo oferecem novos insights sobre padrões de degeneração subcortical e associações com domínios de sintomas na doença de Parkinson. Ao estipular uma métrica para quantificar as alterações cerebrais relacionadas aos estágios da doença, o estudo pode ter vários desdobramentos. Graças à grande coorte e à infinidade de dados obtidos, é possível criar programas, com o auxílio da inteligência artificial, que auxiliem a prática clínica e dando suporte para melhores diagnósticos. “Além disso, os achados possibilitam novas formas de monitorar tratamentos que venham a ser desenvolvidos no futuro”, concluem. 

No Brasil, os trabalhos foram coordenados pelo pesquisador Fernando Cendes, responsável pelo Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (BRAINN). Este Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) tem sede na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo. O artigo ‘A worldwide study of subcortical shape as a marker for clinical staging in Parkinson’s disease’ foi publicado em dezembro de 2024 na NPJ Parkinson’s Disease – doi: 10.1038/s41531-024-00825-9.

Preocupante

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), existem aproximadamente 4 milhões de pessoas no mundo com a doença de Parkinson. O número é equivalente a cerca de 1% da população mundial a partir dos 65 anos. No Brasil, estimativas do Ministério da Saúde apontam que 200 mil indivíduos tenham a condição. Essa doença neurológica progressiva que afeta estruturas do cérebro, principalmente áreas relacionadas ao movimento, tem progressão variável entre pacientes.

Na fase inicial surgem os primeiros sinais de tremores, rigidez muscular e lentidão de movimentos em apenas um lado do corpo. Depois, os sintomas se tornam bilaterais. Com o tempo, a doença fica mais evidente e o paciente passa a ter dificuldades com o equilíbrio e a coordenação. No último estágio há dependência de cadeira de rodas para se locomover, pois a rigidez nas pernas impede o paciente de caminhar.

Saiba mais sobre o estudo no link https://revistasupersaudavel.com.br/a-arquitetura-genetica-do-cortex-cerebral-humano/

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