A obesidade tem sido considerada um problema de saúde pública em todo o mundo e um dos principais fatores responsáveis pela redução da qualidade e expectativa de vida. O excesso de gordura corporal está associado ao desenvolvimento da síndrome metabólica e de diversas enfermidades. Entre os exemplos estão dislipidemia, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, doença pulmonar obstrutiva crônica, vários tipos de câncer e depressão.
Além disso, o ambiente oxidativo e inflamatório crônico observado na obesidade tem sido associado a prejuízos nas capacidades de defesa do sistema imunológico frente a infecções oportunistas e no controle da homeostase metabólica, o que pode levar a um acúmulo de danos celulares no organismo. Estudos têm associado essas características ao desenvolvimento de um estado de envelhecimento prematuro do sistema imunológico.
A ciência tem demonstrado que intervenções no estilo de vida, como dieta saudável, restrição calórica e treinamento físico regular, podem atuar como agentes terapêuticos não medicamentosos eficazes para prevenir e tratar a obesidade. Dados sugerem, ainda, que a atividade física regular pode ser uma abordagem segura e poderosa para melhorar o perfil imunológico e retardar o envelhecimento do sistema imunológico.
No entanto, os efeitos do exercício físico regular em parâmetros relacionados ao envelhecimento precoce do sistema imunológico associado à obesidade são escassos. Por isso, pesquisadores do Laboratório de Fisiologia do Exercício da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (FEF-UNICAMP) desenvolveram um estudo sobre o tema, com apoio da FAPESP.
Os pesquisadores, Dr. Diego Trevisan Brunelli e Dra. Cláudia Cavaglieri, investigaram os efeitos do treinamento físico regular na expressão gênica de marcadores relacionados à inflamação crônica e senescência do sistema imunológico. O estudo de pós-doutorado do Dr. Diego Trevisan Brunelli envolveu especificamente o treinamento combinado (treinamento aeróbico associado ao treinamento de força).
O foco era avaliar os efeitos do exercício físico regular em células mononucleares do sangue periférico e tecido adiposo subcutâneo de indivíduos obesos de meia-idade com diabetes tipo 2. De acordo com os pesquisadores, a hipótese era que 16 semanas de treinamento combinado, de moderada intensidade, poderiam reduzir a expressão gênica desses marcadores inflamatórios e de senescência do sistema imunológico.
O estudo
O estudo envolveu 30 homens e mulheres com idade entre 40 e 60 anos, divididos em dois grupos: exercícios e controle. Os participantes eram obesos grau 1 de acordo com o índice de massa corporal (IMC) e com diagnóstico de diabetes tipo 2. Além disso, não tinham participado de programas regulares de exercícios e/ou dieta nos 12 meses anteriores ao estudo e não eram fumantes. Em relação ao sexo feminino, as voluntárias também deveriam estar na pós-menopausa.
O grupo exercício foi submetido a 16 semanas de treinamento aeróbico e treinamento de força (musculação), três vezes por semana por 70 minutos em cada sessão. Os pesquisadores avaliaram padrões nutricionais, força muscular, aptidão cardiorrespiratória, circunferência da cintura, composição corporal e coletas de sangue para análises bioquímicas e moleculares antes e após as 16 semanas do período experimental.
Achados
Os resultados demonstraram que um protocolo de treinamento combinado de moderada intensidade melhorou a força muscular e a aptidão cardiorrespiratória dos indivíduos obesos com diabetes tipo 2. Além disso, promoveu reduções significativas na circunferência da cintura e na expressão gênica de marcadores associados à resistência à insulina, inflamação e de senescência do sistema imunológico em células mononucleares do sangue periférico.
“Observamos que o período de treinamento de 16 semanas melhorou certos aspectos associados às respostas imunológicas pró-inflamatórias/exaustas que contrabalançam os efeitos da imunossenescência precoce associada à obesidade, mesmo sem intervenção dietética ou alterações significativas no peso corporal”, afirmam os pesquisadores. O estudo ‘Combined Training Improves Gene Expression Related to Immunosenescence in Obese Type 2 Diabetic Individuals’ foi publicado em fevereiro de 2024 no periódico Research Quarterly for Exercise and Sport.
