Embora o câncer de cólon seja frequentemente tratado como uma única doença, evidências demonstram heterogeneidades biológicas e clínicas entre os tumores de cólon proximal e distal – lado direito e lado esquerdo, respectivamente. Discrepâncias entre os dois tipos foram corroboradas pela ciência, mas estavam limitadas à associação entre características clínico-patológicas e perfis genéticos. Entretanto, um estudo de análise multiômica conduzido por pesquisadores chineses explicou as diferenças específicas entre os dois tipos de tumor de cólon.
A análise multiômica combinou regulação genética, microbiota e metabólitos. Para as análises, fezes e espécimes tumorais frescos foram obtidos prospectivamente de pacientes com câncer colorretal esporádico primário (CCR) e controles saudáveis. Os pacientes eram atendidos no Fudan University Shanghai Cancer Center, em Xangai, na China. Nenhum dos participantes foi tratado com quimioterapia, antibióticos ou probióticos um mês antes da inscrição no estudo.
O estudo
A pesquisa foi dividida em duas coortes. Uma envolveu sequenciamento do gene 16S rRNA (16S-seq) e a outra foi de análise multiômica (metagenômica, metabolômica, sequenciamento do exoma completo do tumor e sequenciamento do transcriptoma). Na coorte 16S-seq, formada por controles saudáveis e pacientes com CCR – 264 no total –, as amostras fecais foram coletadas no pré-operatório e detectadas usando sequenciamento do gene 16S rRNA. “Os dados foram analisados para procurar bactérias que estavam associadas à localização do tumor”, explicam os autores.
Na coorte de análise multiômica, amostras fecais de 230 pacientes pré-operatórios com CCR e controles saudáveis foram coletadas. Posteriormente, as amostras passaram por sequenciamento metagenômico e LC-MS (cromatografia líquida – espectrometria de massa). O objetivo dos cientistas era obter insights profundos sobre as espécies da microbiota intestinal e identificação de metabólitos.
Achados
Os cientistas identificaram perfis únicos do microbioma intestinal, metaboloma e genoma do hospedeiro entre os cânceres de cólon proximal e distal. As bactérias Flavonifractor plautii (Fp) e Fusobacterium nucleatum, assim como os metabólitos L-fenilalanina e os genes do hospedeiro PHLDA1 e WBP1, foram as principais características ômicas do câncer de cólon proximal (direito).
Em contrapartida, as bactérias Bacteroides sp. A1C1 e Parvimonas micra, os metabólitos L-citrulina e D-ornitina e os genes do hospedeiro TCF25 e HLA-DRB5 foram considerados as características ômicas dominantes no câncer de cólon distal (esquerdo). De acordo com os autores, esse foi o primeiro estudo a relatar o eixo associado ao câncer de cólon proximal de Fp – fenilalanina – WBP1. “Nossos dados sugerem que o enriquecimento de Fp neste tipo de neoplasia pode estar relacionado à mutação do gene WBP1”, destacam.
Além disso, descobriram que a espécie Flavonifractor plautii está correlacionada negativamente ao PHLDA1 – novo alvo p53 identificado que atua como um gene supressor de tumor. Os autores concluem que tais descobertas fazem a ponte entre os flavonoides associados à dieta, microbiota e ao genoma do hospedeiro. O artigo ‘Distinct microbes, metabolites, and the host genome define the multi-omics profiles in right-sided and left-sided colon cancer’ foi publicado em dezembro de 2024 revista Springer Nature.