A vaginose bacteriana é uma condição comum entre mulheres em idade reprodutiva, caracterizada pela ausência de lactobacilos e uma comunidade diversa de bactérias anaeróbicas. Essa condição leva frequentemente ao aumento do corrimento vaginal, odor e desconforto. Além disso, a vaginose também está relacionada a vários resultados adversos à saúde presumivelmente mediados pela inflamação. Entre os exemplos estão parto prematuro e um risco aumentado de aquisição e transmissão do vírus HIV e de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST).
A resposta imune da mucosa na vaginose bacteriana tem sido amplamente estudada. No entanto, os resultados das pesquisas mostram uma grande variação. De acordo com alguns estudos, as alterações no microbioma vaginal foram associadas ao aumento do número e ativação de células T. Essa condição pode exacerbar a inflamação e o dano tecidual, além de aumentar a suscetibilidade ao HIV. No entanto, muitos destes estudos são transversais, limitando a compreensão da causalidade e sequência de respostas às mudanças no microbioma.
Cientistas norte-americanos analisaram amostras longitudinais de pacientes com vaginose bacteriana para avaliar a cinética das respostas imunes da mucosa a mudanças na microbiota vaginal após tratamento com antibióticos. O foco era identificar os padrões de mudanças na microbiota, células imunes e citocinas que revelam relações causais e direcionalidade da mudança. “Ao avaliar esses padrões, a ideia é contribuir para a compreensão da patogênese da vaginose e como influencia os riscos associados”, informam os autores.
Monócitos e a vaginose
O estudo foi conduzido no Vincent Center for Reproductive Biology do Massachusetts General Hospital, nos Estados Unidos. As participantes elegíveis estavam na pré-menopausa, tinham entre 18 e 55 anos e foram diagnosticadas com vaginose bacteriana. As participantes compareceram a oito visitas ao longo de um período de seis meses – inicialmente semanais (primeiras cinco semanas) e de acompanhamento aos 2, 4 e 6 meses.
As voluntárias receberam tratamento com antibiótico metronidazol oral administrado entre as visitas 1 e 2. Além disso, forneceram swabs vaginais/endocervicais e usaram um coletor menstrual descartável por 20 minutos para coletar fluido vaginal. Para analisar as mudanças nas populações de células imunes da mucosa vaginal, os cientistas conduziram duas comparações diferentes.
“Primeiramente, foram analisadas as diferenças na distribuição de células imunes no fluido vaginal entre o início e o fim de um intervalo”, descrevem. Na segunda análise foram examinadas as alterações na proporção de células imunes entre duas visitas consecutivas em diferentes categorias de pontuação de Nugent. Este sistema de pontuação avalia a microbiota vaginal para diagnosticar vaginose bacteriana. Além disso, as alterações na expressão dos marcadores de ativação de células T CCR5, HLA-DR e CD38 foram analisadas.
Achados
“O estudo mostra que 25,7% das mulheres apresentaram melhora na categoria Nugent, 58,1% permaneceram inalteradas e 16,2% pioraram”, relatam. De acordo com os autores, a melhora foi correlacionada com a diminuição de monócitos, enquanto a piora foi relacionada ao aumento de monócitos e células dendríticas. Células B e quimiocinas induzidas por alguns marcadores inflamatórios foram associadas à melhora da vaginose bacteriana.
Em conclusão, os autores afirmam que células apresentadoras de antígenos, particularmente monócitos, mostraram resposta mais dinâmica a mudanças na microbiota vaginal em pacientes com vaginose bacteriana. “Um ponto forte do estudo é a caracterização das respostas imunes celulares e mucosas solúveis durante e após o tratamento com antibióticos em vários intervalos”, destacam. Isso permitiu uma caracterização precisa das alterações imunológicas após a terapia.
De acordo com os cientistas, esses dados longitudinais permitem avaliar melhor a direcionalidade da mudança em cada componente e inferir potenciais relações causais. “No entanto, mais pesquisas são necessárias para esclarecer as dinâmicas imunes e suas implicações para a recorrência ou eliminação da vaginose bacteriana e suscetibilidade ao HIV”, argumentam. O estudo ‘Association between changes in genital immune markers and vaginal microbiome transitions in bacterial vaginosis’ foi publicado em janeiro de 2025 no Scientific Reports.