O câncer de pâncreas é um tipo de tumor que se desenvolve no órgão responsável pela liberação de enzimas no processo de digestão. O alto risco de morbidade e mortalidade está relacionado, principalmente, pela dificuldade de detecção precoce, visto que muitos dos sintomas se confundem com outros problemas gastrointestinais. Identificar biomarcadores de diagnóstico é, portanto, um grande desafio para frear o avanço da doença. Dentre as possibilidades, recentemente, uma revisão sistemática avaliou o papel da microbiota como um instrumento de diagnóstico não invasivo da neoplasia maligna.
Conduzida por pesquisadores chineses, a revisão sistemática analisou estudos que investigaram a comunidade microbiana com base no sequenciamento do gene 16S rRNA. Ao examinar as diferenças da microbiota entre pacientes com câncer de pâncreas e casos controle, o estudo teve como objetivo buscar uma ferramenta de diagnóstico não invasivo útil na detecção da neoplasia. “As variações no manuseio da amostra, regiões variáveis, profundidade de sequenciamento e plataforma de sequenciamento resultaram em heterogeneidade metodológica significativa”, comentam os autores.
De acordo com os estudos, a microbiota pode impactar o desenvolvimento do câncer de pâncreas por meios locais e/ou remotos. A microbiota pancreática, especialmente a microbiota intratumoral, pode afetar o prognóstico e a eficácia terapêutica desse tipo de câncer. Em um dos estudos revisados, os autores compararam a microbiota tecidual entre pacientes com sobrevida de longo prazo e de curto prazo com a neoplasia por sequenciamento de 16S rRNA.
Resultados
Entre os achados, os cientistas identificaram uma diferença significativa na diversidade e nos táxons dominantes entre eles. Assim, pacientes com maior abundância de Pseudoxanthomonas, Streptomyces, Saccharopolyspora e Bacillus clausii em tecidos tumorais apresentaram longa sobrevida, o que sugere a importância da microbiota pancreática na predição do prognóstico. Em outros estudos, observou-se variação significativa em seis filos bacterianos (Fusobacteria, Bacteroidetes, Firmicutes, Actinobacteria, Verrucomicrobia e Proteobacteria) entre pacientes com câncer pancreático e controles.
De acordo com os autores, ainda que os achados em nível de gênero tenham variado, três modelos diagnósticos usando esses táxons mostraram boa sensibilidade e especificidade para câncer pancreático. “Embora nenhuma bactéria se destaque como mais relevante, tais estudos sugerem uma ligação entre microbiota e câncer pancreático”, avaliam os autores. Os resultados indicam, ainda, que modelos diagnósticos usando múltiplos táxons podem ser promissores para a detecção precoce do câncer de pâncreas.
Os autores observam, ainda, que o estudo teve algumas limitações. Entre os exemplos estão amostras pequenas, muito provavelmente pela baixa taxa de incidência de câncer pancreático; e trabalhos com registros médicos sem controle randomizado. Portanto, estudos mais extensos e bem projetados são necessários para estabelecer, de fato, o papel da microbiota no rastreamento do câncer pancreático. O artigo ‘16S rRNA-based analysis of microbiota as a promising noninvasive biomarker for pancreatic cancer diagnostic tool: a systematic review’ foi publicado em dezembro de 2024 na Gastrointestinal Tumors.