A Organização Mundial da Saúde (OMS) possui um plano de ação global sobre resistência microbiana. O documento chama a atenção para o uso correto de alguns medicamentos e para a importância de frear a resistência das bactérias, que ameaça tornar ineficazes medicamentos fundamentais como antibióticos e antifúngicos. A resistência microbiana é uma das 10 maiores ameaças à saúde pública global, afetando milhões de pessoas. Dessa forma, eleva o tempo de internação e aumenta os custos com saúde.
A médica infectologista Michelle Zicker, do São Cristóvão Saúde, destaca a gravidade dessa questão. Em resumo, a resistência aos antimicrobianos compromete o tratamento e pode ser fatal em muitos casos, uma vez que limita as opções terapêuticas. “A situação gera impacto em todo o sistema de saúde, tornando infecções que eram facilmente tratáveis em verdadeiros desafios por aumentar a mortalidade e o tempo de internação”, explica.
Os antimicrobianos englobam antibióticos, que combatem infecções bacterianas, e antifúngicos, usados contra infecções causadas por fungos. Entretanto, o uso indiscriminado desses medicamentos ao longo dos anos gerou consequências graves. Dessa forma, hoje muitos microrganismos se tornaram altamente resistentes aos tratamentos, dificultando o combate a infecções.
A resistência microbiana ocorre quando um microrganismo (bactéria ou fungo) se adapta ao medicamento, tornando-se imune. Isso significa que tratamentos antes considerados eficazes deixam de funcionar. Com isso, os pacientes passam a necessitar de terapias alternativas, geralmente mais caras e com mais efeitos colaterais.
“O uso de antibióticos e antifúngicos deve sempre ser feito com cautela e orientação médica, evitando que as bactérias e fungos desenvolvam resistência microbiana”, alerta a infectologista Michelle Zicker. De acordo com a OMS, infecções por bactérias resistentes aumentam em 50% o risco de morte em comparação com infecções tratáveis.
Na América Latina e no Caribe, um estudo divulgado em 2024 estimou que cerca de 80 mil mortes ocorridas em 2021 estavam associadas a bactérias resistentes. De acordo com o documento, esse resultado evidencia que a resistência microbiana é realmente uma crise real e urgente.
Ações para mudar o cenário
O combate à resistência microbiana depende de ações coletivas que vão desde o uso consciente de medicamentos pela população até práticas mais rigorosas entre profissionais da saúde. Assim, a população pode fazer a sua parte ao usar medicamentos antimicrobianos com responsabilidade, sempre com orientação de um médico ou dentista. Além disso, é fundamental seguir corretamente as instruções de uso, evitar armazenar sobras dos medicamentos e nunca compartilhar com outras pessoas.
Enquanto isso, os profissionais da saúde também devem agir para minimizar essa situação. Entre as práticas recomendadas estão a prescrição de antimicrobianos apenas quando for realmente necessário, evitando o uso para infecções virais, por exemplo. “Ao nos conscientizarmos e adotarmos práticas responsáveis, ajudaremos a garantir que esses medicamentos continuem eficazes para as próximas gerações”, finaliza a médica.