A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa e transmissível, causada pelo bacilo de Koch, que acomete majoritariamente o pulmão. Mais incidente em populações com vulnerabilidade social, o enfrentamento à doença persiste como um grande desafio para a saúde pública, inclusive no Brasil. Esse cenário é impulsionado pelos altos investimentos relacionados às despesas com tratamento. Recentemente, um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros avaliou os custos diretos da doença no País entre os anos de 2015 e 2022. Além disso, analisou a relação custo-efetividade da estratégia de Tratamento Diretamente Observado (TDO) com o esforço econômico necessário para atingir uma probabilidade de cura de 90%.
O estudo retrospectivo nacional utilizou dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), comparando cenários de pacientes com e sem TDO. De acordo com os autores, a população foi segmentada com base na presença de vulnerabilidades sociais – entre eles indivíduos sem-teto, gestantes, usuários de drogas e pessoas com o vírus HIV – ou histórico de tratamento anti-TB anterior. “Nosso objetivo foi calcular, através de modelos estatísticos, o custo direto da TB pulmonar para o sistema de saúde público”, explicam. Além disso, os pesquisadores avaliaram a despesa estimada por paciente para atingir a taxa de cura (90%) recomendada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Achados preocupantes
A análise de dados revelou que o custo direto total da tuberculose pulmonar no Brasil ultrapassou US$ 1,3 bilhão, no período de 2015 a 2022. Embora as despesas tenham variado de acordo com cada população, a atenção é atraída para os gastos com retratamento – que custaram aos cofres públicos US$ 23,5 milhões. O menor Número Necessário para Tratar (NNT) – medida estatística que indica o número de pacientes que precisam de tratamento para que um resultado desejado ocorra – foram as subpopulações de moradores de rua, dependentes químicos de drogas e retratamento. Os autores destacam, ainda, que esses grupos também apresentaram o maior custo para atingir uma probabilidade de cura de 90%.
Ainda de acordo com os autores, os achados destacam o impacto positivo do TDO nos resultados de tratamento da tuberculose, especialmente nos casos de retratamento e em grupos com maior vulnerabilidade social – como indivíduos em situação de rua e usuários de drogas. “Embora o Brasil ofereça tratamento de TB gratuito e igualitário nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), o impacto das condições de vida dos pacientes demanda soluções focadas nas realidades específicas de cada grupo vulnerável”, destacam. Ademais, apenas pacientes resistentes aos medicamentos de primeira linha são encaminhados para cuidados individualizados em unidades de saúde secundárias. Este fato pode representar uma barreira para atingir maiores taxas de resultados bem-sucedidos do tratamento anti-TB.
Fatores de risco
Consistente com estudos anteriores, a vulnerabilidade social e o retratamento são fatores de risco para resultados desfavoráveis no tratamento da doença no Brasil. Ao intensificar as dificuldades para indivíduos e governos, o combate à doença segue como um desafio para a saúde pública. “Isso é observado desde a apresentação das características clínicas dos pacientes até o alto número de indivíduos sem testes de rastreio microbiológicos”, comentam os autores. Esse cenário dificulta a detecção de cepas resistentes a medicamentos, criando obstáculos para a progressão do paciente e para a saúde da comunidade.
Em conclusão, o estudo fornece insights sobre os aspectos econômicos da tuberculose pulmonar no Brasil e destaca a eficácia do TDO em vários grupos de pacientes, independentemente de suas vulnerabilidades ou histórico de tratamento anti-TB anterior. O artigo ‘Nationwide economic analysis of pulmonary tuberculosis in the Brazilian healthcare system over seven years (2015–2022): a population-based study’ foi publicado em novembro de 2024 no periódico The Lance.