Os microrganismos presentes no intestino são essenciais para a orquestração da homeostase imunológica e metabólica do hospedeiro, com evidências concretas da sua importância na saúde. Em contrapartida, a disbiose intestinal está associada ao início ou à progressão de várias doenças intestinais e câncer colorretal. Já o papel da microbiota no exercício permanece indefinido, incentivando pesquisadores a realizarem estudos que mostrem a dinâmica da microbiota intestinal e sua associação com atividades físicas.
Para avaliar a hipótese, pesquisadores chineses desenvolveram um ensaio clínico randomizado e controlado em homens com sobrepeso, pré-diabetes e sem tratamento medicamentoso. O foco era a coleta de análises clínicas e amostras biológicas antes e depois do treinamento físico de 12 semanas. “Também questionamos a relação do microbioma intestinal moldado pelo exercício com o bacterioma, metaboloma e proteoma na modulação dos benefícios metabólicos do exercício”, explicam.
Além disso, foi desenvolvido um algoritmo de aprendizado de máquina (learning machine) integrando assinaturas fúngicas de linha de base que podem prever a responsividade individual à intervenção do exercício na prevenção do diabetes. Os indivíduos elegíveis foram aleatoriamente designados para grupos de sedentários ou de exercícios. Estes passaram por treinamento supervisionado de atividades intervaladas de alta intensidade, três vezes por semana, por 12 semanas.
Melhoras relacionadas ao exercício
Os resultados deste estudo multiômico integrativo elucidam que a atividade física molda profundamente a composição do microbioma intestinal, com dinâmica fortemente associada aos benefícios metabólicos induzidos pelo exercício. Os cientistas identificaram, ainda, gêneros responsivos ao exercício com potenciais benefícios metabólicos, incluindo Verticillium, Sarocladium e Ceratocystis.
“Usando abordagens multiômicas, elucidamos associações abrangentes entre mudanças no microbioma intestinal e fenótipos metabólicos moldados pelo exercício, microbioma bacteriano e perfis metabolômicos e proteômicos circulantes”, reforçam os autores. Além disso, um algoritmo de aprendizado de máquina previu a responsividade ao exercício em melhorias na sensibilidade à insulina.
Essas descobertas sugerem que a microbiota intestinal pode ser uma reguladora importante do metabolismo do hospedeiro. Ademais, levanta a possibilidade de direcioná-la como uma nova abordagem para intervenção personalizada no estilo de vida com objetivo de prevenir diabetes e outros distúrbios metabólicos. Embora os resultados mostrem o possível envolvimento dos microrganismos intestinais no metabolismo moldado pelo exercício e na responsividade à insulina, outros estudos e investigações são necessários para validar as descobertas e dissecar a relação de causa e efeito. A pesquisa ‘Exercise-changed gut mycobiome as a potential contributor to metabolic benefits in diabetes prevention: an integrative multi-omics study’ foi publicada na Gut Microbes em outubro de 2024.